Nas obras "Estação Carandiru", "Carcereiros" e "Prisioneiras" do Dr. Drauzio Varella, fica evidente que pode ocorrer uma busca pela própria prisão por parte dos detentos. Isso porque, para muitos deles, a vida na rua, principalmente quando se trata de usuários e usuárias de drogas, como o crack, consiste em três sinas: tráfico, roubo ou prostituição. Por isso, na Penitenciária eles ao menos conseguem comida e se afastam – mesmo que temporariamente - do crack, já que depois do grande surto da droga nos anos 90 dentro das cadeias, o Comando Vermelho após assumir o poder na maioria dos presídios de São Paulo, baixou um decreto visando a manutenção da ordem: “foi pego fumando crack, leva uma surra para aprender. Traficou, morre.”
"Ao contrário de nosso Código Penal, sujeito a inúmeras atenuantes, agravantes, apelações e jurisprudências contraditórias, o da bandidagem é de tradição oral e prevê todas as contravenções imagináveis. A burocracia é mínima, os julgamentos rápidos, as penas são de execução imediata e jamais prescrevem. Soube de homens executados mais de vinte anos depois de terem roubado um comparsa ou estuprado uma mulher". (Varella, 2017, p. 61).
Buscar o próprio aprisionamento na busca por uma alternativa de conseguir se manter vivo é a prova mais clara da falha ou do êxito do Estado, se for levado em conta a quais interesses o bio-poder, que detém o controle da vida, serve e quais vidas importam para ele. O cárcere, a solidão, as revistas constrangedoras, a ruptura da relação no caso das mães amamentando, os riscos de vida e ameaças decorrentes de brigas de facções e problemas de convivência, nada disso importa perante alguns presos que acreditam que somente estando na cadeia possuem condições de se manterem vivos.
Referências:
FOUCAULT, M. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.
VARELLA, D. Carcereiros. Editora Companhia das Letras, 2012.
VARELLA, Drauzio. Estação carandiru. Editora Companhia das Letras, 2005.
VARELLA, D. Prisioneiras / Drauzio Varella. - Imprenta: São Paulo, Companhia das Letras, 2017.
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